quarta-feira, 2 de abril de 2014

dentro, fora ... perto

vira e mexe, em alguns dias da semana, e, vários dias do mês acuso o Estado de me fazer perder tempo ... e sempre penso em alguma forma de me pagarem hora extra pelo transtorno ... metrô lotado ...



fácil, fácil acabamos perdendo 30~40 minutos ... mas hoje não me importei muito não, afinal estava em boa companhia - Ruy Castro, Morrer de Prazer ... crônicas de um cara que teria tudo pra ser "de mal" com a vida (ex-alcoólatra e que teve de enfrentar um câncer na garganta), mas celebra a vida com prazer e alegria ... como dizem os budistas ou xintoístas ou alguma outra religião oriental - "... pensar na morte três vezes ao dia para vivermos bem" ... acho que é isso mesmo ...



A Vida é perto

O conceito é de Millôr Fernandes (quem mais?), e meio que se explica por si mesmo: a vida é perto. Foi dito por ele para nossa querida amiga, a cantora Olivia Byington, a respeito de alguém que, sendo carioca e morando no Rio, fazia questão de ter casas e apartamentos em várias cidades do planeta. "A vida é perto, Olivia", disse Millôr. Sem elucubrações outras. Ela entendeu, contou para todo mundo e todo mundo entendeu.

Foi também de Millôr que roubei o conceito de que o ideal é morar, no máximo, até o 4º andar -para conservar a perspectiva humana. Por isso, há anos, ao comprar um apartamento no Rio, fiz questão de que, ao chegar à janela, eu estivesse ao alcance da voz de quem passava lá embaixo, na calçada. De que pudesse ler a tabuleta na carrocinha com o preço do Chica-bon e, idealmente, distinguir a cor dos olhos das moças a caminho da praia -único item que não foi atendido, porque elas passam de óculos escuros. Enfim, a vida é perto.

Na semana passada, uma autoridade sanitária paulistana, preocupada com as possibilidades de contágio da gripe suína, disse que a situação é grave porque, em São Paulo, as pessoas passam o dia em interiores: no ônibus, no metrô, no escritório, na fábrica, no restaurante, em casa ou na casa dos outros. Impossível o espirro individual. Dali inferi que, em algumas cidades, a vida é dentro. E que, nas demais, o Rio, por exemplo, a vida é fora.

Pode-se estender o conceito a muitas categorias, como a de que a vida é hoje, ontem ou amanhã, de que é agora ou nunca, ou de que é um amistoso ou a valer três pontos. Tudo vale. Acacianismos a parte (tipo "Viver é muito perigoso", Guimarães Rosa), talvez levássemos vida melhor se tivéssemos mais tempo para pensar nela.

Mas não dá, porque a vida, quando acordamos para ela, é depressa.





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